“Vivo estressado, esse é meu estilo de vida, já me acostumei!”. Quem nunca ouviu ou mesmo disse essa frase?
A vida moderna é cheia de dificuldades, prazos, frustrações e exigências. Para muitas pessoas o estresse é tão comum que se tornou, quase, um estilo de vida.
Mesmo que de curta duração, o estresse pode ter impacto no organismo. O estresse agudo causado por uma desavença com o seu companheiro ou por um evento mais dramático como um acidente, pode assumir um impacto ainda maior (estresse pós-traumático). Quando sujeito a períodos mais longos, o estresse pode tornar-se crónico ou atingir uma situação limite (burnout, exaustão no trabalho).
Mas afinal de contas, o que é estresse?
Estresse é uma resposta fisiológica e comportamental normal a algo que aconteceu ( como no trabalho, para a entrega de um projeto, ou faculdade; ou ainda a falta de recursos financeiros, mês após mês, sem perspectiva de melhora) ou está para acontecer ( ser acometido com Covid-19, ou ainda medo constante de perder alguém para essa doença) que nos faz sentir ameaçados ou que, de alguma forma, desorganiza nosso equilíbrio. Quando nos sentimos em perigo real ou imaginado, as defesas do organismo reagem rapidamente, num processo automático conhecido como reação de “luta, fuga ou de congelamento“.
Significado de estresse no dicionário:
Exaustão física ou emocional geralmente causada em razão de algum sofrimento, doença, cansaço, pressão, trauma, sendo definida pela incapacidade de desenvolver suas funções ou trabalhos habituais.
Você sabia?
O estresse pode ser positivo (eustresse: tipo de estresse que é saudável ou fornece um sentimento de satisfação ou outros sentimentos positivos), ocorre em nosso organismo quando reagimos com motivação diante de uma dificuldade de forma que a tensão sentida seja estimulante. O Eustresse ajuda a manter-se centrado no objetivo que pretende alcançar, enérgico e alerta.
Durante uma apresentação estimula a sua concentração ou pode levá-lo a estudar para um exame quando já está cansado e preferia estar realizando outra atividade. Em situações de emergência, pode salvar a sua vida, dando-lhe a força extra para se defender, para agir. Ele nos protege, preparando o corpo para reagir rapidamente a situações adversas.
Esta resposta automática ajuda a garantir a sobrevivência do ser Humano quando o ambiente exige reações físicas rápidas em resposta às ameaças, como as dos animais predadores. Confrontado com o perigo, o corpo entra em ação, inundando-o com hormônios do estresse que elevam os batimentos cardíacos, aumentam a pressão sanguínea, aumentam a energia e preparam-nos para lidar com o problema.
O estresse também aparece em acontecimentos positivos, mas que criam uma mudança significativa na nossa vida, como por exemplo casar, uma nova atividade profissional, uma gravidez, mudança de casa ou cidade, etc. Isso também pode nos deixar tensos e provocar estresse e até ansiedade. Mas, se passa de um certo nível, deixa de ser proveitoso e começa a prejudicar gravemente a saúde, podendo alterar o humor, a produtividade, prejudicando os relacionamentos e a qualidade de vida em geral.
O problema nos tempos modernos é que a resposta ao estresse é acionada regularmente pelo nosso organismo, a exposição crônica aos hormônios do estresse pode prejudicar o nosso organismo. Por isso, devemos saber reconhecer os seus sinais e sintomas e, consequentemente, tomar medidas para minimizar os efeitos.
Os níveis de estresse variam de pessoa para pessoa, o que é estressante para um, pode não ser para outra pessoa. A capacidade de tolerar o estresse depende de muitos fatores, a genética, a qualidade dos seus relacionamentos, a sua visão geral da vida, crenças e sua inteligência emocional. Por esse motivo é importante você saber identificar quando o seu índice de estresse está ultrapassando seus limites podendo acometer sua saúde física e psicológica, reconhecendo seus sintomas e rapidamente tomando atitudes para amenizá-los.
Sabemos hoje que o cérebro e todas as suas estruturas são responsáveis pelo processamento das sensações, cognições, sentimentos e movimentos. A anatomia humana é composta por vários sistemas: nervoso, gastrointestinal, circulatório, respiratório, tegumentar, muscular, urinário, endócrino, imune, esquelético, reprodutor e outros.
Quando o cérebro processa essas informações, pode mandar o comando para aumentar o ritmo cardíaco, provocar respostas electro dérmicas (o aumento da humidade nas mãos ou testa), aumentar a tensão muscular (os músculos ficam mais rijos) e elevar o estado de concentração. Esse processo é feito sem intervenção do próprio indivíduo é um ato inconsciente, só percebendo quando há uma reação fisiológica. Essas reações são tão claras que temos plena consciência que o nosso corpo está reagindo ao que está acontecendo à nossa volta ou ao que estamos pensando. Para entender melhor quais são os sintomas do estresse dos quais devemos ficar atentos, vou dividi-los em físicos e mentais.
Os sintomas físicos do estresse geralmente são:
- Sensação de cansaço;
- Dor de costas, dor muscular;
- Diarreia ou constipação (prisão de ventre);
- Dor na barriga (estômago);
- Azia;
- Tensão arterial alta;
- Tonturas e náuseas;
- Dor de cabeça;
- Dor no peito;
- Frequência cardíaca mais acelerada (taquicardia);
- Perda do desejo sexual (falta de desejo);
- Alergias;
- Alterações no apetite (comer muito ou falta de apetite);
- Perturbações do sono (excesso de sono, dificuldade em dormir – sem sono);
- Tiques nervosos (roer as unhas, tirar casquinha de pequenos machucados, arrancar a pele dos lábios, arrancar os fios do cabelo, ranger os dentes, por exemplo);
- Queda de cabelo;
- Alteração dos níveis de colesterol e triglicerídeos;
- Alterações na menstruação;
- Mãos e pés transpiração excessiva;
- Herpes;
- Hematomas pelo corpo, sem causa aparente.
Os sintomas de estresse emocional são:
- Cansaço mental;
- Perda de memória;
- Falta de concentração;
- Apatia e desânimo (pensamentos negativos);
- Ansiedade;
- Preocupação excessiva;
- Alterações no humor (mau humor constante, ou mais frequente);
- Irritabilidade excessiva (a pessoa sente-se frequentemente irritada);
- Agitação psicomotora, incapacidade de relaxar;
- Sentimentos de estar sobrecarregado;
- Sentimento de solidão e isolamento (isolar-se dos outros);
- Depressão ou tristeza;
- Negligenciar responsabilidades, evitar situações;
- O uso de café, álcool, tabaco ou drogas para tentar relaxar.
Hoje em dia, o estresse psicológico é considerado como um fator importante numa variedade de sintomas físicos e processos de doenças. A investigação clínica sugere que uma larga maioria das doenças estão relacionadas com a exposição prolongada ao estresse. As evidências mostram como o estresse crônico pode reduzir a imunidade e tornar as pessoas suscetíveis a infecções. Perceber as consequências do estresse, é uma importante forma de combate.
Tratamento
Não é possível encontrar um tratamento milagroso para o estresse. Cada pessoa possui mecanismos próprios para lidar com isso, nesse sentido não existe uma receita padrão que sirva a todos, para combater o estresse. O combate passou a ser de primordial importância, pois o estresse excessivo apoderou-se do nosso cotidiano.
Por outro lado, existem estratégias de redução de estresse, como: a meditação, o relaxamento, os exercícios físicos, uma boa noite de sono, comer adequadamente, ouvir ou tocar música, contato com a natureza, não pegar sol nos horários nocivos, fazer acompanhamento psicológico, acupuntura, autocuidado ( exemplo: higiene básica, passar creme na pele, cuidar dos cabelos, cortar as unhas), ajudam a reverter esses efeitos e a prevenir outras doenças.
A gestão do estresse deve ser encarada seriamente como uma forma de simultaneamente melhorarmos a nossa condição de saúde e melhorarmos a nossa qualidade de vida.
Bruna Roge
Psicóloga clínica cooperada