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Aprendendo Terapia do Esquema com This is Us

*Contém Spoiler

This is Us é uma ótima série para nos enxergarmos em algum personagem, já que é uma série que não tem um personagem principal, todos são apresentados de forma muito profunda. Mas por qual motivo amamos tanto “This is us”? Não é uma série que você vai rir até a barriga doer, é uma série que envolve conexão emocional, possui muitas reviravoltas e faz uma ponte com: passado/presente/futuro e eu indicaria uma caixinha de lenços ao seu lado, ela será uma boa companheira nos episódios.

Como conhecemos profundamente os personagens, trazemos também algumas idealizações, podemos ter a sensação de querer ser filho desses pais ou até mesmo parceiro(a) do Jack ou da Rebecca, porém como qualquer outra história de amor e parentalidade, existem muitos conflitos entrelinhas. Essa parentalidade não foi tão perfeita assim, a conjugalidade também. 

 

Vamos conhecer a família Pearson?

 

Jack Pearson – O pai que consegue dizer que errou e demonstra afeto. Foi colocado no papel de salvador desde o início da vida, e foi esse papel que ele assumiu na vida até o fim. Tem uma relação conturbada com o pai, que era alcoolista, já a mãe tinha o perfil submisso, o que reforçava o papel de salvador por parte do Jack dentro desta família. É um personagem que encanta pelo jeito que ele se conecta com as pessoas, principalmente com os filhos. Ele se sente responsável por cuidar da família, apresenta o autossacrifício como um valor, o que por consequência fica longe do “ser cuidado”, ele não demonstra as necessidades dele. Quando ele cuida do outro de forma excessiva, ele se desconecta com as suas próprias necessidades.

 

Rebecca Pearson – A mãe, que teve uma mãe rígida e um pai super protetor. Sempre sonhou em ser cantora e acabou deixando esse sonho de lado. Lutou para não ser a mãe dela, o que acabou por fazer com que ela não colocasse certos limites nos filhos e evitava situações de confronto com os mesmos. Para não parecer crítica e exigente falhou por evitar certos assuntos, não conseguia colocar limites afetivos. Acabava não colocando para fora o que sentia e de forma muito sutil se queixava ao longo das temporadas de alguma dor física. 

 

Kevin Pearson – Aprendeu que ser bonito conquistava as pessoas e por consequência atraia atenção. Apresentava dificuldade em pedir certas coisas, mas hiper demandava da Kate, o que chegava a incomodar o Toby (marido da Kate). Sentia que os pais não davam atenção – Jack mais ligado a Kate e Rebecca mais ligada ao Randall. Kevin se tornou o tal “filho que dava mais problema”. Tem uma cena na piscina que ele quase se afoga, os pais não percebem e ele acaba não tendo a atenção necessária, esses pais tinham a percepção que Kate e Randall “precisavam” mais deles do que Kevin, fazendo com que ele se virasse sozinho desde criança, a cena que evidencia isso é quando Randall recebe uma advertência na escola e quem “resolve” a situação foi o Kevin, pois já estava acostumado a resolver certas situações. Sente que não teve afeto, carinho ou atenção o suficiente, se sentia incompreendido e solitário. Pessoas como Kevin só vão à terapia quando chegam no limite, é aqui que percebem que precisam de ajuda, pois tem o senso de que ninguém poderia o compreender. 

 

Kate Pearson – A culpa que carrega em relação ao pai a leva a uma postura punitiva, por mais que tenha usado por vários momentos a comida como forma de agredir a mãe, ao longo da história percebemos que a postura punitiva é muito mais canalizada para ela do que para o outro. Se sente defeituosa, inútil e cheio de falhas. Enfrenta dificuldades nas relações interpessoais, no início da sua relação com Toby o criticava com frequência, como se o testasse várias vezes. Entrelinhas ela entendia que alguém com tantas falhas não era merecedor do amor do outros e por isso apresentou tanta resistência em aceitar ser amada pelo Toby. Por vezes acionava o modo punitivo e de ataque com o Toby e com a mãe, como se exigisse alguma necessidade que não estava sendo atendida.

 

Randall Pearson – Foi abandonado pelos pais biológicos e adotado por pais que haviam acabado de perder um recém nascido, o que colocou o Randall muitas vezes na posição de “tapar o buraco”, de suprir a necessidade (principalmente da mãe – Rebecca). Nos estudos ele começou a sentir que fazia parte de algo, e também fazia com que ele ficasse afastado do lado social (sentia que não pertencia na comunidade onde vivia). Por se sentir diferente dos outros, acabava se sentindo inferior. Se sentia solitário e que estava excluído do resto do mundo. Um menino negro, que foi criado por uma família branca, intensificou a sua sensação de se sentir diferente. Assim como o pai (Jack), também exercia o papel de autossacrifício e se sentia responsável pelos outros, o que intensificou depois de conhecer o pai biológico (William), e ter passado pouco tempo com ele (que enfrentava uma doença terminal). Ao entrar em contato com a perda do pai biológico, se exigiu mais do que se exigia, e seu lado “viciado” em desempenho se intensifica, tentando ajudar todos que estavam próximos a William.

 

Pensando em tudo isso, com qual personagem você mais se conecta?

 

Marina Rollo Camargo dos Reis

Psicóloga cooperada – CRP 06/108906

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